Você pode estranhar, mas a sexualidade é parte fundamental no plano de salvação de Deus para a humanidade. Sem ela podemos dizer que não há salvação! É isso mesmo. Sem a sexualidade não seriamos humanos. E o Salvador se entregou para salvar justamente o gênero humano. Você vai entender melhor isso nas linhas seguintes. Podemos partir de uma reflexão sobre a Sagrada Escritura usando um texto do livro do Gênesis: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra’. Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: ‘Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra’” (Gn 1, 26-28).

Quando meditamos sobre o fato de que Deus criou o homem e a mulher diferentes, vemos que essas diferenças, ou seja, a sexualidade masculina e feminina, estão inseridas no plano de Deus. Mas, qual o significado do termo “sexualidade”?

O Catecismo da Igreja Católica diz: “A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma; relaciona-se à afetividade, capacidade de amar e procriar, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os outros” (CEC 2332). Podemos assim perceber que a sexualidade é muito mais do que a relação sexual. Inclui a afetividade, as formas que temos de expressar nossos sentimentos e a nossa capacidade de amar e de criar vínculos de amizade verdadeira. Nós exercemos a sexualidade em todo momento, em toda atitude, principalmente, quando amamos verdadeiramente o nosso irmão. Por ‘sexualidade’ entendemos o conjunto de características físicas, psíquicas, de personalidade que compõem o homem ou a mulher e que os determinam como tal, através das quais eles se relacionam com o mundo, com os outros e consigo mesmos. Desde a voz à maneira de pensar e encarar as diferente situações da vida, tudo é determinado pela sexualidade. Não podemos confundir o termo ‘sexualidade’ com aquilo que é determinado pelo termo ‘genitalidade’. Este se refere ao que está relacionado com o ato sexual em si, os órgãos sexuais, sua utilização e funcionamento.

A mulher e o homem têm formas diferentes de expressar sua afetividade e sua sexualidade. Isso está inserido no plano de Deus, que os fez diferentes para que pudessem se completar.

Ainda meditando sobre o trecho de Gênesis 1, 26-28, vemos uma ordem de Deus: frutificai e multiplicai-vos. Essa ordem pode ser interpretada tanto do ponto de vista espiritual, emocional e sexual. Também somos chamados a produzirmos frutos espirituais e a amadurecermos a vivência das nossas emoções e da nossa sexualidade.

Quando vivemos em plenitude a nossa sexualidade, estamos de acordo com a vontade e os planos de Deus. E viver a sexualidade em plenitude, como você já deve ter entendido, não significa o exercício da genitalidade, mas sim o exercício equilibrado de todas as características que tornam o homem um ser masculino e a mulher um ser feminino. Dessa forma, a vivência da sexualidade não pode ser vista como algo que é pecaminoso ou errado aos olhos de Deus. A vivência equilibrada da sexualidade depende de uma série de fatores, desde a formação afetiva na infância e adolescência até o contexto sócio-cultural no qual estamos inseridos. Os desequilíbrios dessa sexualidade serão tratados mais adiante.

O ato sexual em si é uma das formas de exercermos nossa sexualidade. A respeito dele, o Catecismo esclarece que: “A união do homem e da mulher no casamento é uma maneira de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador” (CEC 2335). Novamente, a Igreja aponta o exercício da sexualidade como uma forma de nos tornarmos semelhantes ao Criador. Podemos dizer que o ato sexual é uma celebração da criação, é um momento em que Deus se alegra e se agrada! O prazer sexual foi criado por Deus e está nos planos de Deus! No ato sexual são derramadas bênçãos sobre o casal e sobre cada cônjuge.

A Igreja também deixa claro que, para que o ato sexual integre a vivência da sexualidade dentro dos planos de Deus, ele deve se realizar dentro do casamento. Isso está de acordo com o que nos aponta o Catecismo: “A sexualidade na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e totalmente ilimitada, do homem e da mulher” (CEC 2337).

O sacramento do matrimônio capacita o homem e a mulher a responderem à usa vocação de constituir família, de procriar, de produzir frutos espirituais e de amadurecer espiritualmente: “Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do criador. E este amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e realizar-se na obra comum da preservação da criação” (CEC 1604).

Essa reflexão pode ser complementada com outro trecho do livro do Gênesis: “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só, vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada’” (Gn 2, 18).

O exercício da sexualidade entre homens e mulheres, conforme os planos de Deus, é uma ajuda para o nosso crescimento espiritual e afetivo. O plano de Deus para a convivência entre homens e mulheres é que uns levem os outros à vivência da santidade e da plenitude do amor de Deus. O exercício da sexualidade deve levar o outro a se aproximar de Deus e a tornar mais equilibrados os seus relacionamentos com os irmãos e consigo mesmo. Trazendo isso para a vida prática de nossas comunidades, quer dizer que os homens, vivendo sua masculinidade de maneira equilibrada, podem dar suporte e apoio para outros homens através da amizade sincera. Isso vale também para o relacionamento entre sexos opostos. Um rapaz que vive sua masculinidade de maneira integrada e equilibrada terá um papel importantíssimo no amadurecimento afetivo e feminino de suas amigas. Uma mulher que vive sua feminilidade de maneira equilibrada, guiada pelo Espírito Santo, será um importante instrumento nas mãos do Senhor para ajudar os irmãos e irmãs na fé a amadurecerem sua afetividade, sexualidade e espiritualidade.

Aqui está um ponto crucial para o amadurecimento de nossa sexualidade. Muitas vezes durante nossa infância e adolescência, por uma série de fatores, não recebemos os modelos de masculinidade e feminilidade que deveríamos. Ou por relacionamentos desestruturados com nossos pais e irmãos, ou por amizades que não nos ajudaram a crescer, ficamos sem referências fortes do que é ser homem ou mulher no plano de Deus. Isso causa sérios desequilíbrios nessa área. Muitos corações jovens sofrem carregando traumas e complexos por falta de modelos de sexualidade equilibrada.

Nossos grupos de oração podem, ou melhor, devem ser uma alternativa eficaz contra essa realidade. Precisamos desenvolver em nossas comunidades relacionamentos castos e equilibrados. No contato de amizade entre sexos iguais ou opostos nossos jovens podem encontrar os modelos que não tiveram antes. É claro que o grupo jamais substituirá a família. Nem é isso o que se propõe. A proposta aqui é que nossos grupos sejam um local fecundo para resgatar o equilíbrio do jovem como um todo. A sexualidade é uma área muito importante e deve também ser resgatada em nossas comunidades. Isso acontece através da oração – e é preciso orar a Deus pedindo a cura e o equilíbrio na área da sexualidade – e também através dos relacionamentos, das amizades. Por isso é importante que nos grupos se incentivem momentos de partilha e convivência fraterna, principalmente durante o tempo de lazer.

QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas de Vida e Relacionamento – Ministério Jovem RCCBrasil. Módulo Serviço – Apostila I. 2ª edição.

Siglas:
CIC – Catecismo da Igreja Católica
DV – Constituição Dogmática Dei Verbum
FR – Carta Encíclica Fides et Ratio
GS – Constituição Pastoral Gaudium et Spes

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