No ano 325, ocorreu o primeiro Concílio Ecumênico na cidade de Nicéia, Ásia Menor. Na ocasião, foi definida a divindade de Cristo contra as heresias de Ario: “Cristo é Deus, Luz da luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro”. Após 1600 anos, em 1925, Pio XI proclamou o modo melhor para superar as injustiças: o reconhecimento da realeza de Cristo. De fato, escreveu: “Visto que as festas têm maior eficácia do que qualquer documento do magistério eclesiástico, por captar a atenção de todos, não só uma vez, mas o ano inteiro, atingem não só o espírito, mas também os corações” (Encíclica Quas primas, 11 de dezembro 1925).

 

“A multidão permanecia lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: “Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus”! Do mesmo modo zombavam dele os soldados, que se aproximavam dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam: “Se és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo”. Acima de sua cabeça pendia esta inscrição: “Este é o rei dos Judeus”. Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos”! Mas, o outro o repreendeu: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Para nós, isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,35-43).

 

Celebramos, hoje, o último domingo do Ano Litúrgico, chamado Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Esta meta foi-nos indicada no I Domingo do Advento e, hoje, a atingimos. Visto que o Ano Litúrgico representa a nossa vida em miniatura, esta experiência primeiro nos ensina e, depois, nos recorda, que estamos a caminho ao encontro com Jesus, o Esposo, que virá como Rei e Senhor da vida e da história. Referimo-nos à sua segunda vinda: a primeira, quando veio como um humilde Menino, depositado na manjedoura (Lc 2, 7); a segunda, quando retornará à sua glória, no final dos tempos. Esta vinda é celebrada, liturgicamente, hoje. No entanto, há outra vinda intermediária, que vivemos, hoje, na qual Jesus se apresenta a nós com a Graça dos seus Sacramentos e na pessoa de cada um dos “pequeninos” do Evangelho – “Em verdade vos declaro: se não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus”… (Mt 18,2), isto é, somos convidados a reconhecer Jesus na pessoa dos nossos irmãos e irmãs, a negociar os talentos recebidos, a assumir nossas responsabilidades todos os dias. – Ao longo deste caminho, a liturgia se oferece a nós como escola de vida para educar-nos a reconhecer o Senhor, presente na vida cotidiana, e preparar-nos para a sua última vinda.

 

O ano litúrgico é o símbolo do caminho da nossa vida: tem um início e um fim, rumo ao encontro com o Senhor Jesus, Rei e Senhor, no Reino dos Céus, quando entrarmos pela porta estreita da “irmã morte “(São Francisco). Pois bem, no início do Ano Litúrgico (I Domingo do Advento), foi-nos indicada, de antemão, a meta à qual devemos dirigir nossos passos. É como se, em vista de um exame, soubermos, um ano antes, as perguntas e as perguntas! Mas, isso teria sido um exame desonesto. Na liturgia, porém, este é um dom do Mestre Jesus, porque nos permite saber qual o caminho que devemos seguir (Jesus, o Caminho), com quais pensamentos seguir (Jesus, a Verdade), e qual esperança que deverá nos animar (Jesus, a Vida – Cf. Jo 14,6).

A passagem do Evangelho apresenta-nos o Rei na cruz, entre dois ladrões. Se recordarmos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, entre cantos e danças (Cf. Lc 19,28-40), ficamos admirados pelo modo com o qual, no final, será apresentado no “trono da Cruz”. Aqui, ele também se depara com um ladrão, que zomba da sua realeza: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos!”. O outro, por sua vez, diz: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!”, reconhecendo a realeza de Jesus. Com efeito, a força da realeza de Jesus consiste, precisamente, no que o “bom ladrão” declarou: o amor. Um amor sem confins, misericordioso, reflexo daquela realeza com a qual Jesus foi acolhido em Jerusalém: “Eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso; ele vem montado em um jumento” (Zc 9,9).

Jesus não colocou “a sua pessoa” antes de tudo e de todos, como seus acusadores queriam:  “Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!” (v. 35); depois, os soldados: “Se és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo” (v. 37) ; enfim, o primeiro ladrão: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos!”  (v. 39).

Jesus não veio para servir a si mesmo, mas para servir; não veio para servir-se do “seu poder”, mas para se doar, totalmente, aos outros. Para salvá-los. Eis a realeza de Jesus, que não é entendida. Trata-se da realeza do amor, do perdão, do serviço, que Jesus veio nos trazer. Graças à Cruz, ele foi vitorioso!

 

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Fonte: Vatican News