Já estamos no ano novo, com o número dois mil e dezesseis “do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Completa-se o tempo (Cf. Gl 4, 4) com o grande e maior acontecimento, que mudou a história do mundo: os pastores encontraram Maria e José, e o recém nascido deitado numa manjedoura, os magos foram à Belém e, crescido Jesus se manifestou em Caná e às margens do Jordão. É o tempo das teofanias. De lá para cá, todas as gerações ficam maravilhadas com aquilo que a Igreja anuncia. Por isso, brote o canto de louvor a Deus por aquilo que, mais uma vez, vemos e ouvimos durante os dias de Natal, Ano Novo e Epifania, apenas celebrados.
Diante da manjedoura, nosso olhar se voltou para uma cena que não pode deixar-nos indiferentes: a Mãe e o Menino. A Mãe, nós a reconhecemos Mãe de Deus! Fazemos festa porque Deus veio buscar na terra o laço da maternidade, tão querido à humanidade, desde a criação. Sabemos que Deus nos ama com laços de força e de ternura, e que seu rosto misericordioso não rejeita os traços do carinho materno, antes os acolhe e eleva, pois olhou para a humildade de sua serva (Cf. Lc 1, 48).
Ao começar o ano, os cristãos não foram em busca de sortilégios ou adivinhações para o ano novo. Sabem ser possuidores da maior de todas as fortunas, do tamanho da eternidade, ser filhos de Deus! Junto com Nossa Senhora de Belém, diante de Maria, Mãe de Deus, a bendita, a abençoada, feliz, bem-aventurada, pedimos a Deus a bênção para o ano que se inicia. Bendizer, falar bem! Deus fala bem de nós! Aproximemo-nos dele que, na bênção, nos beija benevolente as mãos, como bom paraense. Beijemos as mãos de Deus, para que a troca de amabilidades se transforme na bênção que procuramos e nos tornemos portadores da bênção da misericórdia, misericordiosos como o Pai. Somos missionários da bênção de Deus!
Há poucos dias, foi proclamada na Liturgia a chamada Bênção de Aarão: “O Senhor falou a Moisés: ‘Dize a Aarão e a seus filhos: Com estas palavras devereis abençoar os israelitas: ‘O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (Nm6, 22-27). A moldura que envolve os bens que Deus quer oferecer ao seu povo são as palavras: bênção (Nm 6, 24) e paz (Nm 6, 26).
O Senhor te abençoe! Deus age em favor de seu povo com benevolência, protegendo-o com o seu favor. Deus não pode querer o mal para seu povo! Deus só sabe fazer o bem. Lá nas primeiras páginas da Bíblia, quando a Escritura revela a gravidade de um drama familiar, observa o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial da Paz,”Caim diz que não sabe o que aconteceu ao seu irmão, diz que não é o seu guardião. Não se sente responsável pela sua vida, pelo seu destino. Não se sente envolvido. É-lhe indiferente o seu irmão, apesar de ambos estarem ligados pela origem comum. Que tristeza! Que drama fraterno, familiar, humano! Foi a primeira manifestação da indiferença entre irmãos. Deus, ao contrário, não é indiferente: o sangue de Abel tem grande valor aos seus olhos e pede contas dele a Caim. Assim, Deus se revela, desde o início da humanidade, como aquele que se interessa pelo destino do homem. Quando os filhos de Israel se encontram na escravidão do Egito, Deus intervém de novo. Diz a Moisés: ‘Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios e de fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel’ (Cf. Ex 3, 7-8). Ele observa, ouve, conhece, desce, liberta. Deus não é indiferente. Está atento e age” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2016).
Para receber o bem querer de Deus e o falar bem que é próprio de Deus, queremos acolher o convite do Papa Francisco a superar a indiferença, com as quais a humanidade pode amaldiçoar a sua própria vida. A primeira forma de indiferença para com Deus, da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação. O homem penso que é o autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade; sente-se autossuficiente e visa ocupar o lugar de Deus; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, exceto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos. A segunda forma é a indiferença para com o próximo, que assume diferentes fisionomias. Há quem esteja bem informado, mas o faz entorpecido. Pessoas que conhecem vagamente os dramas da humanidade, mas não vivem a compaixão, pois mantêm o olhar, o pensamento e a ação voltados para si mesmas. Tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete (Cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz, n. 3). O povo da bênção supera toda forma de indiferença!
A bênção se conclui com a Paz. Os dons de Deus se resumem no dom messiânico da Paz, a plenitude da felicidade, Shalom, que quer dizer plenitude, integridade de vida, harmonia com Deus, consigo e com a natureza! Mas é uma paz diferente daquela que o mundo pode dar. Esta paz tem o seu preço na Cruz e é fruto do mistério pascal de Cristo. No núcleo da bênção está a misericórdia: “O Senhor faça brilhar sobre ti sua face, e se compadeça de ti”. O olhar luminoso de Deus e a compaixão. Compaixão e perdão. Compaixão e Misericórdia! É ainda o Papa Francisco a iluminar-nos: “A misericórdia é o coração de Deus e de todos aqueles que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos; um coração que bate forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (Cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2016, 5). Um belo programa de vida, na superação da indiferença.