Há algum tempo temos ouvido falar em Cultura de Pentecostes. O que é essa Cultura de Pentecostes? Quais seus principais aspectos? Como vivenciá-la?

Cultura, entre outras coisas, é o complexo dos padrões de comportamento, transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade.

O que é então a Cultura de Pentecostes? Podemos dizer que é o conjunto de atitudes, pensamentos, vivência regular de tudo aquilo que Pentecostes gerou nas primeiras comunidades cristãs, conjunto esse transmitido e vivido pelos participantes dessas comunidades.

Para ficar mais claro ainda, vejamos alguns exemplos desses padrões de comportamento que encontramos narrados no livro dos Atos dos Apóstolos: a docilidade ao Espírito Santo, encontrada em Atos 9, 11-17 era comum entre eles; o destemor de Pedro em anunciar o senhorio de Jesus narrado em Atos 2, 36 também é comum, da mesma forma que o desejo de partilhar a graça e salvação narrada logo a seguir em Atos 2, 39; a vivência dos dons, especialmente o dom do amor era parte viva dos primeiros cristãos, como podemos ver em Atos 3,6; não perder a oportunidade de evangelizar como vemos em Atos 3, 12-36 também é uma característica desses comunidades; a fidelidade a Igreja, a vida de oração, a perseverança, a oração em comum e a comunhão fraterna narradas em Atos 2, 42 eram como uma regra de vida; o perdão aos algozes e a doação da própria vida por amor ao reino também fazem parte dessa Cultura de Pentecostes.

É claro que essa cultura não se limita a isso, mas acreditamos que agora temos uma maior clareza do que é realmente viver a Cultura de Pentecostes.

Agora que já compreendermos melhor, precisamos colocar em prática essa vida no Espírito.

Surgem então outras perguntas: Onde? Quando? Como? Etc.

A resposta é simples e curta: sempre, em todos os lugares e em todas as oportunidades, mas sempre na docilidade do Espírito já que “o Espírito na Igreja forja missionários decididos e valentes  como Pedro (cf. At, 4, 13) e Paulo (cf. At 13, 9), indica os lugares que devem ser evangelizados e escolhe aqueles que devem fazê-lo (cf. At 13,2)” (Documento de Aparecida – DA 150).

De certa forma é muito fácil viver a Cultura de Pentecostes nos grandes eventos da RCC, ou mesmo em nossos Grupos de Oração. Está na hora de vivê-la também em nosso trabalho, nossos estudos, nosso namoro ou casamento, entre nossos amigos, ou seja, em todos os lugares e situações.

Quero partilhar com vocês uma situação comum a muitos de nós, um acidente de trânsito.

Em junho de 2009 estávamos minha esposa, alguns irmãos e irmãs e eu dando uma formação para o Ministério para Crianças na Diocese de Santos. Por termos retornado muito tarde da noite, não tiramos do nosso carro os materiais que usamos para essa formação.

Na manhã seguinte, tivemos que sair meio às pressas em função de socorrer o irmão da minha esposa que não estava muito bem e em uma rotatória de nossa linda Ribeirão Preto, outro veículo chocou-se na parte de trás do nosso carro. Até ai, nada de muito diferente de tantos outros acidentes. Descemos, com tranquilidade conversamos um pouco, acertamos como faríamos, aonde iríamos, etc. O que trazíamos no porta malas do nosso carro gerou curiosidade no motorista do outro carro, que perguntou-nos se trabalhávamos com festa infantil, por tanto material ligado a crianças que trazíamos em nosso carro, quando então lhe explicamos que aquilo era para trabalharmos na evangelização infantil.

Fomos à delegacia mais próxima fazer o BO e em seguida tirar as coisas do meu carro para podermos nos dirigir a um funileiro para fazermos os orçamentos.

Algumas pessoas do trabalho da minha esposa vieram buscá-la para ir ao encontro do seu irmão, que ainda não havia sido socorrido. Ao se despedir ela deu um abraço no motorista do outro carro e o abençoou. Acredito que suas amigas não compreenderam nada do que estavam vendo, acho que nem mesmo ele.

Como já disse, havíamos chegado de uma formação em Santos, onde, cada um de nós havia ganhado uma pequena imagem do Menino Jesus de Praga, patrono do Ministério para Crianças e, naquele mesmo dia, eu havia pensado o que fazer com aquela pequena imagem, já que em casa já temos outras do Menino. Não tive dúvidas, peguei a pequena imagem e lhe ofereci. Suas lágrimas diziam tudo o que o seu coração queria dizer e suas palavras não conseguiam expressar.

Dirigimos-nos à seguradora e em seguida à funilaria e tudo foi andando como de costume.

Ao deixar meu carro na funilaria, o motorista do outro carro me ofereceu uma carona para onde eu quisesse, pedi-lhe então que me deixasse no escritório da RCC em Ribeirão Preto. Nessa altura ele já estava acompanhado de sua esposa e partimos para o meu escritório.

No caminho perguntei-lhes se eles não gostariam de receber uma visita de alguns irmãos para um momento de oração (visitas que fazemos com regularidade em nossa Paróquia). De pronto, ambos manifestaram seu desejo de nos receber.

Marcamos e fomos; minha esposa, meu filho, três irmãos da comunidade e eu.

Ali cantamos, oramos, rezamos uma dezena do terço, partilhamos a Palavra de Deus e nossas vidas.

“Deus é mais”, como canta Nelsinho Corrêa: “Deus é mais forte que minha fraqueza, mais santo que minha impureza, mais justo que minhas injustiças. Deus é mais.”

Após quase duas horas de um lindo convívio, o motorista do outro carro que era uma pessoa com algumas posses despediu-se de nós dizendo que nunca ninguém havia lhe visitado sem ser por algum interesse. Na verdade nós também lá estivemos por interesse, mas não aquele que ele se referia, nosso interesse era ser fiel ao chamado que Deus nos fez em nosso Batismo.

Dias depois ele e sua esposa estiveram em uma missa em nossa Paróquia e nos vimos ainda por outras vezes.

Essa história teve ainda muitos outros detalhes maravilhosos, mas o essencial para esse momento é isso.

Não podemos perder nenhuma oportunidade de anunciar o Evangelho. Precisamos aproveitar cada momento. Anunciar oportuna e inoportunamente como indica São Paulo.

O Padre Benigno Juanes, SJ, em um de seus escritos (Tentações dos servos na Renovação, Loyola, 1992) nos escreve sobre essa importância de vivermos essa cultura, pois nos leva a ser instrumento do Senhor para que o Espírito Santo volte a ter o “protagonismo” que teve na Igreja primitiva, colocando Jesus no lugar central da vida do homem, vivendo em profundidade essa força atuante na vida pessoal, no trabalho, no mundo e na Igreja.

Ele também nos lembra a fala do Papa Paulo VI sobre a importância atual da ação do Espírito, de forma especial na Renovação Carismática: “Então (vistos os seus frutos), como essa renovação espiritual não poderá ser uma sorte para a Igreja e para o mundo? Nesse caso, como não fazer uso de todos os meios para que permaneça?” (pg. 227).

Sabemos que não é fácil. Não são todos os terrenos que acolhem bem a boa semente. Mas uma coisa é certa. Precisamos semear a Cultura de Pentecostes.
 
Sérgio Henrique Speri
Coordenador arquidiocesano da RCC Ribeirão Preto e Coordenador da Comissão Editorial da RCCBRASIL

e

Ana Paula Silveira Gericó Speri
Coordenadora do Ministério para Crianças na Arquidiocese de Ribeirão Preto e no Estado de SP e membro da Comissão Editorial da RCCBRASIL