Modelo para a vida dos cristãos, Maria aparece nos principais acontecimentos da história da salvação narrados pelo Evangelho: Bodas de Caná, Calvário, aos pés da Cruz, Pentecostes. Essa presença desperta uma devoção especial, que a Igreja aponta como o caminho perfeito para chegar a Cristo.

A devoção mariana, uma veneração toda especial que lhe tributamos, está presente na vida da Igreja com inúmeras memórias, festas e solenidades que perpassam todo o ano, de janeiro a dezembro, com destaque para os títulos que apresentam as principais verdades de fé: Maternidade divina, Imaculada Conceição, Virgindade perpétua e Assunção aos céus.

Ela é modelo para a vida de todos os cristãos e socorro certo nas tribulações, “por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira” e “sempre foi saudada como membro inteiramente singular da Igreja que ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe um filial afeto de piedade” (cf. Lumen Gentium, 53 e 62), através das devoções contidas no calendário litúrgico.

O exercício piedoso da devoção à Virgem Maria é rico de frutos espirituais para o povo cristão, pois, como devoção fecunda, tem sempre o objetivo final de promover o encontro com Cristo. Nenhum encontro com ela pode deixar de ser um verdadeiro encontro Cristo. Maria é sempre o caminho que leva a Cristo.

 

INTERCESSORA

Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. A Virgem Maria, conhecida como intercessora e medianeira de todas as graças, participa na mediação de Cristo, que assim afirma a Lumen Gentium (60):

“O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: ‘não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos’ (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece”.

Maria é o protótipo da alma orante da Igreja. Ao olhar para ela, com certeza, colhemos frutos que nos edificam e ainda com muita precisão não nos desviamos daquilo que é essencial na vida cristã e que ela mesma nos indica ao dizer: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). 

 

PERFEITO ÍCONE DA IGREJA

O Concílio Vaticano II apresenta Maria de uma forma muito especial. Ela “é saudada como membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabado da mesma, na fé e na caridade” (LG 53).

Todas as qualidades e graças que nós exaltamos em Maria lhe são dadas pelos méritos do “fruto de seu ventre” (Lc 1, 42). Nela se pode enxergar a figura perfeita da Igreja, “sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,27), e, por assim dizer, a visibilidade do mistério da Igreja.

Maria é colocada como modelo a ser imitado, exatamente porque soube viver de forma intensa a palavra de Deus. Sua vida é colocada como um “espelho para a Igreja num duplo sentido: primeiro, porque reflete a luz que ela mesma recebe, como faz um espelho com a luz do sol; em segundo lugar porque nela a Igreja pode e deve ‘espelhar-se’, isto é, olhar-se e confrontar-se para tornar-se bela aos olhos de seu celeste Esposo” (CANTALAMESSA, Raniero. Maria, um espelho para a Igreja).

Dessa forma, Maria é apresentada como modelo de virtudes para os fiéis que lutando contra o pecado, podem levantar os olhos para ela e assim receber a inspiração necessária para progredir na vida cristã rumo à santidade (cf. LG 65).

 

PLENA REALIZAÇÃO DA IGREJA

Em Maria já se realizaram “as bênçãos espirituais de toda sorte nos céus em Cristo” (cf. Ef 1,3). Tudo aquilo que nós esperamos na ordem da graça como herança de Cristo Jesus, Maria já recebeu. 

“A melhor maneira de expressar a plena realização da Igreja é voltando o olhar para Maria, a fim de contemplar nela o que é a Igreja em seu mistério, na sua peregrinação da fé, e o que ela será na pátria ao termo final de sua caminhada, onde a espera, na glória da Santíssima e indivisível Trindade, na comunhão de todos os santos, aquela que a Igreja venera como a Mãe do seu Senhor e como que a sua própria Mãe” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 972).

Maria é “feliz porque acreditou” (cf. Lc1,45) e, acreditando, expressa sua alegria ao entoar o Magnificat (cf. Lc1,46ss), como que profetizando para a posteridade os elementos necessários para a realização plena da Igreja. Percorrendo esse caminho, a Igreja estará percorrendo o mesmo caminho de Jesus Cristo, do qual Maria é colocada como primícias da Igreja escatológica.

 

MÃE DA IGREJA 

A graça especial de termos Maria como Mãe de Deus e da Igreja nos é dada pela ação amorosa de seu filho e isso acontece num momento ímpar de sua vida. É aos pés da cruz que Maria recebe essa incumbência na pessoa do discípulo que representa nesse momento toda a Igreja de Jesus.

Maria está intimamente ligada a Cristo tanto pela maternidade, quanto pela sua abertura ao seguimento de seu Filho, “em virtude da inefável eleição do mesmo Pai eterno e sob a ação particular do Espírito de Amor, ela deu vida humana ao Filho de Deus, do qual procedem todas as coisas e do qual recebe a graça e a dignidade da eleição todo o Povo de Deus” (Redemptor Hominis, 22). Assim, sendo Mãe do Deus encarnado que é a razão da existência da Igreja, também é chamada a ser sua Mãe, pois a Igreja é o Corpo Místico de seu Filho.

Com as virtudes especiais que moldaram a vida de Maria, dando-lhe a graça de ser a Mãe de Deus e da Igreja, nessa mesma ordem virtuosa, a Igreja também é chamada de Mãe, pois, configurada a Jesus Cristo pela sua ação santificadora, gera para uma vida nova os fiéis que lhes são confiados.

 

PRESENÇA NO INÍCIO DA IGREJA

Ornada de bens pela bondade de Deus, Maria se coloca a serviço da Igreja que está para se manifestar. Juntamente com os discípulos, Maria “persevera na oração” (At 1,14) para pedir a graça do Espírito Santo, o mesmo dom que ela já havia experimentado no momento da anunciação do Anjo.

Após a concretização da promessa, os apóstolos saem em missão para testemunhar até os confins da terra a boa nova ensinada por Jesus (cf. At 1,8b). Maria não recebe diretamente o envio de Jesus como eles, mas desde o início se coloca ao lado da Igreja para rogar a Deus pelo êxito de sua missão no mundo.

Entretanto, ela é uma testemunha autêntica do acontecimento salvífico e misterioso revelado em Jesus. “A Igreja, portanto, desde o primeiro momento, ‘olhou’ para Maria através de Jesus, como também ‘olhou’ para Jesus através de Maria” (Redemptoris Mater, 26).

Essencialmente é necessário seguir Jesus, pois, é ele “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Esse foi o caminho percorrido pela Virgem Maria até o último instante. Ela não abandona seu Filho em momento algum. Ela está imbuída de um amor tão grande que não titubeia e, mesmo diante da dor e do sofrimento, permanece firme enquanto todos fogem.

Ela é modelo para a Igreja pela coragem que tem, é mulher corajosa, forte e decidida. Assim, ela é modelo para todos os evangelizadores, “modelo de um amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens” (LG 65).

 

Pe. Nilso Motta

Diocese de Osasco (SP)

 

Artigo extraído da Revista Renovação – Edição 92 – maio/junho de 2015, pág. 10 e 11.