“A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.” (Jo. 20,21)

Caríssimos irmãos e irmãs, graça e paz da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo! Um feliz e abençoado Ano-Novo a todos!

A cada ano o Conselho Nacional pede ao Senhor uma Palavra Norteadora da missão da RCCBRASIL no ano seguinte. Sabemos que toda a Sagrada Escritura é maravilhosa e útil para capacitar o homem para toda boa obra, mas pedimos ao Senhor algo pontual que se vá desdobrar durante todo o ano. Assim, em setembro/2023 o Senhor nos presenteou com esta passagem de João 20,21 para o ano da graça de 2024.

Qual é o contexto deste trecho do Evangelho? Homens e mulheres haviam largado suas vidas, seus afazeres, sua família, sua rotina, sua estabilidade para seguirem Jesus e agora esse Mestre havia sido morto de forma violenta e alvo de grandíssima injustiça. Imaginemos como eles estavam interiormente: talvez com o coração tomado pela desilusão, pela amargura, pela dor profunda, pela raiva, pelo medo, enfim, havia naqueles corações muitas vozes interiores que abafavam a força da Promessa de Ressurreição. O próprio evangelista vai dizer no versículo 9 que os discípulos ainda não haviam entendido a Escritura segundo a qual Jesus devia ressuscitar dentre os mortos.

Entretanto, na tarde “daquele mesmo dia”, isto é, no domingo da Ressurreição, Jesus Ressuscitado aparece aos Seus discípulos, manifesta-se a eles. Aqui apreendemos um primeiro ensinamento: Jesus aparece e se manifesta ressuscitado primeiramente a seus discípulos. Não se trata de uma preferência ou de um exclusivismo da parte do Senhor, mas por serem discípulos, eles estavam abertos a esta teofania (manifestação divina), de certa forma, havia uma expectativa de que Deus não lhes desampararia.

Se queremos experimentar uma teofania é preciso colocar-nos como discípulos humildes e tementes diante do Senhor, pessoas com o coração aberto e expectante, pois Deus não rejeita os humildes e crentes.

Na sequência, Jesus lhes saúda: “A paz esteja convosco” (Shalom Aleichem – do hebraico) ou (Eíthe i eiríni na eínai mazí sas – do grego). Esta saudação denota o desejo de total bem-estar em Deus, estar completo, estar são, estar bem em todos os sentidos, ser próspero e feliz, significa paz com Deus e, em consequência, conosco mesmo e com os semelhantes.

Ora, se o Messias Ressuscitado está no meio de nós e ficará conosco até o fim dos tempos, então renasce a esperança e podemos permanecer em paz, aconteça o que acontecer. Ele é o Príncipe da Paz, a razão da nossa esperança. A Paz que Ele dá nada nem ninguém pode roubar. Nada de medo, nada de dispersão, passou o que era velho, eis que tudo se fez novo! Todos devemos permanecer em comunhão, maravilhados em torno do Ressuscitado. Diante da contemplação do Senhor Ressuscitado, lançamos fora os olhares desesperados, podemos repousar em Deus – Sl 61, perdemos o medo de sermos cristãos, pois Ele está no meio de nós e podemos tocá-Lo. Hoje Jesus continua dizendo para nós “A Paz esteja convosco”. O que precisa do “Shalom” de Deus dentro de cada um de nós hoje?

Deus é amor! Tudo em Deus é amor. Logo, o Pai enviou Jesus por amor, com amor e em amor! Diante do pecado do homem, da sua desfiguração, da sua expulsão do Paraíso, eis que uma voz (o Verbo) ecoa de dentro de Deus: “Eu irei”. Deus mesmo se desdobra em amor para vir até nós. Não se prevaleceu de sua condição divina, mas por amor assumiu a nossa condição, sendo obediente até à morte de cruz. O Enviado – Jesus – é totalmente comprometido com a vontade e o desejo salvífico do Pai, tem por alimento fazer a vontade daquele que envia, faz e ensina tudo o que aprendeu do Pai, é em tudo consubstancial ao Pai que O enviou, é totalmente abnegado de si e entregue ao projeto do Pai, com vitória já decretada antecipadamente. É Santo e justo.

Desta mesma forma Jesus nos envia: movido por amor entranhado, desejoso de salvar a todos, como um Deus comprometido por aliança lança um grito de guerra e de vitória contra o mal, certo da vitória da Igreja. Jesus, portanto, é o sacramento do Pai (signo, sinal sagrado, visível, concreto e perpétuo, imagem visível do Deus invisível, Palavra (Verbo) visibilizada, segundo Santo Agostinho) e a Igreja (nós) é sacramento de Jesus. (cf. Documento de Puebla n.º 920 a 923 c/c LG 1).

Estas palavras de envio de Jesus conferem aos Apóstolos a mesma missão que o Verbo Encarnado recebeu do Pai, a ser exercida em nome e com a autoridade do próprio Jesus. Tamanha manifestação do Ressuscitado e envio que concede aos apóstolos são profundamente libertadores: liberta os discípulos do medo, da prisão numa sala, da desilusão como se fosse “o fim de tudo”.

Ao mesmo tempo, este envio é fruto de um amor inimaginável, que tudo perdoa, que não desiste de nós. As palavras de envio de Jesus curaram aquelas pessoas e também a nós. É como se Ele dissesse: “apesar da traição, da negação, da dispersão, do pouco entendimento, eu ainda conto com vocês… Eu continuo confiando em vocês!”

Por fim, um detalhe interessante, que não se encontra em todas as traduções da Sagrada Escritura, mas que felizmente está na tradução da Ave-Maria: “Eu vos envio A VÓS”. O Senhor envia homens de carne a homens de carne. A diferença é que somos enviados como homens de carne cheios do Espírito Santo a um mundo sedento do amor de Deus. O Senhor nos envia entre iguais. Em que somos melhores do que os irmãos lá de fora? Todos somos alvos do amor de Deus e Ele quer salvar todos os homens.

Jesus envia discípulos que Ele levanta como líderes carismáticos. Não vamos de qualquer jeito, vamos com escolha, com chamado, com provisão de Deus, com a autoridade conferida por Ele, com os dons que Ele nos concede.

Tudo isso tem muito a ver com o verbo “IR” que norteará a missão da RCCBRASIL neste ano de 2024 e também tem muito a ver com a chamada “Cultura do Encontro” que o Papa Francisco tanto nos tem exortado em seu Pontificado. Trata-se de ir ao encontro das pessoas enxergando-as, tocando-lhes, escutando-as e dedicando-se a elas, como Jesus fez em sua vida pública.

Portanto, irmãos e irmãs, temos o envio do Senhor para IRMOS revestidos de Sua autoridade e cheios do Seu Espírito. Não podemos ficar parados! Que Nossa Mãe, a Virgem de Pentecostes, interceda incessantemente por nós para que sejamos agentes da Cultura de Pentecostes no Brasil e no mundo.

 Veni Sancte Spiritus!

 

Vinícius Rodrigues Simões

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL

G.O Jesus Senhor