Muitas vezes somos surpreendidos com algumas reivindicações mundanas que podem chocar os desavisados. Explico: somos pais de CINCO filhos e tentamos, com dificuldade, criá-los na fé católica. Isso exige certas renúncias que quem é pai/mãe já pode imaginar. Certa feita, fomos surpreendidos por um familiar dizendo que minha esposa não é nada, que tinha começado alguns projetos, mas não os tinha terminado e, como não era tão bem-sucedida financeiramente como ele, ela não seria “nada”. Uma frase de efeito, efeito negativo, que pode entrar no coração desavisado e fazer um estrago. Mas a pergunta que fica é: o que é ser alguma coisa nos dias de hoje?

Depende para quem queremos responder. Caso a resposta seja para uma porção egoísta e materialista da sociedade, talvez a vida familiar possa soar como um nada. Mas para nós, católicos, a resposta é que a família é um dom para a Igreja e a Igreja um dom para a família (cf, Amoris Laetitia, § 87).

Deus nos chama, aproxima-se de nós, toma a inciativa, com amor clama a nossa resposta, esse chamado se manifesta como a vocação ao matrimônio (obs.: há outros tipos de chamados). A nossa busca incessante por felicidade vai ao encontro a esse chamado que o Senhor tem para nossa vida. Como dizia meu antigo pároco, hoje bispo Dom Mário Antônio da Silva, “a felicidade se encontra no centro da vontade de Deus”.

Essa é uma experiência pessoal, o chamado é particular, começa com um nome, o meu, o seu. Deus nos chama pelo nome, a viver essa experiência de participação na obra de salvação através da formação de uma família. Uma verdadeira imitação de Cristo, mesmo que imperfeita, mas uma forma de seguimento, como nos mostra a exortação apostólica Amoris Laetitia, no seu parágrafo 72: “O matrimônio é uma vocação, sendo uma resposta ao chamado específico para viver o amor conjugal como sinal imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja.” Se Deus nos chama a tal vocação, corramos a discerni-la e respondê-la com amor e dedicação, pois estaremos no centro da vontade Dele.

A resposta de amor não se limita a uma dimensão romântica, mas engloba uma « união afetiva », espiritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da amizade e a paixão erótica, embora seja capaz de subsistir mesmo quando os sentimentos e a paixão enfraquecem. (cf, Amoris Laetitia, §120).  E também cf, Amoris Laetitia, § 121: Isto tem consequências muito concretas na vida do dia-a-dia, porque, « em virtude do sacramento, os esposos são investidos numa autêntica missão, para que possam tornar visível, a partir das realidades simples e ordinárias, o amor com que Cristo ama a sua Igreja, continuando a dar a vida por ela ». Ou seja, somos chamados a viver nossa vocação no mundo, na história, com as dificuldade e desafios da vida atual, que sempre nos tenta com bens terrenos, confrontando com nossos valores católicos, a toda hora seduzindo para mudar o nosso comportamento e influenciar a vivência sexual do casal, a criação e educação dos filhos, o exercício da oração familiar entre outros. Nessas horas nosso amor é provado, exigindo firmeza, fé, disciplina, paciência e resiliência.

Dessa reflexão ficam algumas indagações. A quem quero impressionar? A Deus ou a uma sociedade há muito afastada dos valores cristãos? A resposta é para todos, mas não agradará a todos. Tentar viver as exigências dos evangelhos nos custará muitas vezes o martírio incruento, mencionado pelo Papa Bento XVI no Angelus de 28/10/2007     (https://www.vatican.va/content/benedictxvi/pt/angelus/2007/documents/hf_ben-xvi_ang_20071028.html).

“É a pacífica batalha do amor de cada cristão, que como Paulo, deve infatigavelmente combater; a carreira por difundir o Evangelho que nos compromete até a morte”.

Nesse contexto a família é um sinal admirável, muitas vezes de contradição, mas que deve sempre remeter a Cristo e sua Igreja. É isso irmãos, somos realmente muito diferentes de um “nada”, somos sinais que evangelizam, chamados a produzir nas pessoas reflexão, muitas vezes sentimentos de desconforto, outras vezes sinais de esperança que a família ainda subsiste. Como disse um grande santo, preguemos o evangelho, se necessário, utilizaremos palavras.

Fernando Augusto Coimbra Chesco
Leda Maria Bernardeli Palhares Chesco
Grupo de oração Sagrado Coração de Jesus
Coordenadores do Ministério 
para as Famílias da RCC Paraná