“A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador. Porém, muitos dos nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a rejeitam explicitamente; de tal maneira que o ateísmo deve ser considerado entre os fatos mais graves do tempo atual e submetido a atento exame” (Gaudium et Spes, 19).
“Vocação” tem assim um significado muito amplo e se aplica a toda a humanidade, chamada à salvação cristã.
Entretanto, “vocação” se realiza em atitudes e deveres particulares que determinam a escolha que cada pessoa faz para dar à própria vida um sentido ideal: cada estado de vida, cada profissão, cada dedicação aos outros pode ser caracterizada como vocação, que lhe dá uma dignidade superior e um valor transcendente. Mas a palavra vocação adquire um significado específico quando se trata de uma vocação especial, que vem de Deus diretamente, como um raio fulgurante de luz que ilumina o mais profundo da consciência humana e se expressa numa entrega total da vida ao amor de Deus, que depois se desdobra no amor e no serviço ao próximo. Trata-se de um fato tão sagrado que exige uma atenção especial da Igreja, justamente pelo valor da “pérola preciosa” (Mt 13, 46) que aí se expressa (Cf. Beato Paulo VI, Mensagem para a Jornada Mundial de Orações pelas vocações, 1967).
Mais ainda. A Igreja não vive sem pessoas que se dediquem à evangelização. “De fato, ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’. Ora, como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele que não ouviram? E como o ouvirão, se ninguém o proclamar? E como o proclamarão, se não houver enviados? Assim é que está escrito: ‘Bem vindos os pés dos que anunciam boas novas!'” (Rm 10, 13-15). E aqui está o desafio, pois a Igreja não organiza uma rede de propagandistas profissionais, mas envia homens e mulheres livres e voluntários, seguidores de Cristo que lhe dão tudo o que são e o que têm, com todos os riscos que este seguimento comporta. Com que alegria meu olhar se dirige a tantos jovens, rapazes e moças, que têm acolhido o chamado de Deus a esta radicalidade de vida!
Mas onde se encontram tais pessoas? Onde encontrar mais gente que se dedique ao anúncio do Evangelho? “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” (Mt 9, 37-38). Um assunto tão delicado foi confiado por Deus a nós e à nossa oração! Ele quer depender justamente de nós para que as vocações de especial consagração a ele e ao seu Reino sejam despertadas e cultivadas na Igreja. Imensa bondade e confiança indescritível na responsabilidade das pessoas e das comunidades cristãs. Aqui nasce o primeiro apelo para o mês de agosto, dedicado às vocações. Se são importantes todos os estados de vida na Igreja, desta feita nos permitimos voltar nosso olhar de modo especial à consagração específica de dedicação exclusiva à Igreja e ao Reino de Deus.
Onde se encontram estas pessoas? Em nossas Paróquias e Comunidades. Durante o mês dedicado às vocações, chegue minha palavra aos sacerdotes, especialmente os que têm a cura pastoral nas Paróquias. Chamem e o façam de modo bem claro e explícito, pois as vocações estão presentes na Igreja. O que falta é trato, carinho, cuidado atencioso. Proponho que todos os padres e em todas as missas, especialmente aos domingos, durante o mês de agosto, convoquem para o seguimento de Jesus crianças, adolescentes e jovens, para a vida sacerdotal, religiosa, missionária e para as novas formas de dedicação à Igreja. Depois, queira Deus que sejam procurados pelas vocações assim despertadas e dediquem tempo para acompanhá-las.
Onde se encontram tais pessoas? Sem dúvida alguma nas famílias! Peço aos pais e mães que perguntem com liberdade e força aos seus filhos e filhas sobre “vocação”. E tenham a coragem de abrir-lhes o horizonte, dizendo que ser consagrado a Deus é um caminho de grande felicidade! Tenho a certeza de que existem vocações escondidas, quais pedras preciosas, que aguardam pais e mães capazes de as cultivarem com carinho e oração.
Onde se encontram tais pessoas? São crianças, adolescentes e jovens aos quais chegam estas palavras, destinadas a abrir o mês vocacional. É você que já sentiu um apelo irresistível pela entrega total da vida a Deus. Pode ser que o ambiente da sociedade não lhe favoreça responder positivamente, mas muito maior do que todos os ventos que correm é a voz de Deus que lhe diz ser este o seu lugar, na dedicação total a ele e ao seu Reino, no coração da Igreja.
Onde se entram tais pessoas? No coração de Deus! Por isso, proponho às famílias e às Paróquias rezarem durante o mês de agosto uma das mais belas e conhecidas orações pelas vocações:
“Senhor da messe e pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: ‘Vem e segue-me’! Derrama sobre nós o teu Espírito, que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a messe não se perca por falta de operários. Desperta nossas comunidades para a missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino, na vida consagrada e religiosa. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da messe e pastor do rebanho, chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder SIM. Amém”.