“E veio o momento em que o sol, a princípio escondido, pôs-se a brilhar, então um grande fogo se acendeu e maravilhou todos os espectadores.” (II Mac 1, 22)
Caríssimos irmãos e irmãs, graça e paz da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo!
No Segundo Livro de Macabeus lemos um maravilhoso e impactante relato da manifestação do amor, da misericórdia e da fidelidade de Deus para com Seu povo: “Em vésperas de celebrarmos, dia vinte e cinco de Casleu, a purificação do templo, julgamos oportuno certificar-vos disso, a fim de que vós também celebreis a festa da cenopégia e a comemoração do fogo que apareceu quando Neemias ofereceu o sacrifício, após ter reconstruído o templo e o altar. Na verdade, quando nossos pais foram levados à Pérsia, os sacerdotes de então, inflamados de piedade, tomaram secretamente o fogo sagrado do altar e o esconderam no fundo de um poço seco, onde eles o ocultaram tão cuidadosamente, que o lugar permaneceu desconhecido de todos. Decorreram muitos anos e, quando aprouve a Deus, Neemias, salvo pelo rei da Pérsia, enviou, para retomar o fogo, os descendentes dos próprios sacerdotes que o haviam ocultado. Ora, segundo a explicação que eles nos deram, não encontraram o fogo, mas um líquido espesso. Neemias ordenou-lhes que o tirassem e o trouxessem. Uma vez preparada a matéria do sa¬crifício, disse Neemias aos sacerdotes que derramassem a água sobre a madeira e sobre o que estava ali colocado. A ordem foi executada, e veio o momento em que o sol, a princípio recoberto por nuvens, pôs-se a brilhar; então um grande fogo se acendeu e maravilhou todos os espectadores. Enquanto se consumia o sacrifício, os sacerdotes puseram-se a rezar, e todos rezavam com eles. Jônatas entoava e os outros, inclusive Neemias, juntavam sua voz à dele” (II Mac 1, 18-23).
Com efeito, o primeiro ensinamento precioso que extraímos deste texto bíblico é que o fogo aparece quando oferecemos o sacrifício agradável a Deus. O texto afirma claramente isto: o fogo apareceu quando Neemias ofereceu o sacrifício. Ora, este sacrifício não é aquele de bodes e cordeiros dos quais Deus não necessita, mas o coração quebrantado, contrito e humilhado em Sua presença, o qual Ele jamais haverá de desprezar. Nosso sacrifício é, pois, penitência, mortificação, jejum, abstinência, esmola, retorno à Casa Paterna, conversão sincera, sede de Deus, pois o Pai está sempre a nos esperar. Significa dizer que para que haja a manifestação da glória e do poder de Deus em nossas vidas, é preciso apresentar-Lhe antes a matéria-prima, isto é, o nosso coração aberto, arrependido, dócil, o trono da nossa vida vazio para que Ele reine.
O texto também afirma que a chama foi escondida por sacerdotes piedosos no fundo de um poço seco. É possível que a chama do amor de Deus tenha sido escondida no fundo de um poço seco dentro de nossos corações diante dos exílios da vida – na Escritura trata-se de um exílio que durou cerca de 143 anos –, diante das distrações, cansaços, lutos, desilusões, decepções, ressentimentos, acomodação, indiferenças… Com efeito, tudo isso vai abafando a chama do amor em nossos corações a ponto de torná-la quase que imperceptível.
Ao serem enviados para tentar recuperar o fogo sagrado, os descendentes dos sacerdotes só encontraram uma espécie de lama e não mais o fogo santo. Talvez também em muitos dos nossos corações já não haja mais fogo ou chama acesa, mas somente o lodo sob a forma de cansaço, desilusão, indiferença, acomodação, frieza, tibieza, incredulidade, etc.. Entretanto, à ordem de Neemias, tais sacerdotes “levantaram-se” e trouxeram aquele lodo mesmo, com o qual untaram a grelha e o animal do sacrifício. E o que aconteceu? Quando a luz do sol se pôs a brilhar, um grande fogo se acendeu e consumiu a oferta do sacrifício, maravilhando a todos. Devemos, pois, nós também “nos levantar” para apresentar ao Senhor nem que seja o lodo, a água espessa que trazemos hoje no coração, pois quando a luz do Sol da Justiça brilhar sobre este lodo, ele converterá lama em grande fogo novamente dentro de nós. É que não se trata de uma lama qualquer; mas uma lama fruto da nossa verdade apresentada a Deus, fruto do nosso arrefecimento, que pode, no entanto, ser convertida por Deus em chama bem acesa novamente.
Apresentemos, pois, a nossa verdade – por pior que possa ser – a Deus. Não há situações que Deus não possa restaurar, recriar, reconstituir. O Senhor nos convida a recomeçar com Ele, o Senhor nos chama a inaugurar um novo dia com a Sua graça, chama-nos de novo a um relacionamento fecundo e íntimo com Ele.
Aprendemos ainda que os descendentes dos sacerdotes foram obedientes ao envio de Neemias e, cheios de fé expectante, dirigiram-se até o poço em que o fogo santo havia sido depositado, já cientes de que ali só havia um líquido espesso, um lodo, uma lama. A este respeito São Paulo nos diz: “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11, 6). Diante da ordem de Deus “Levanta-te, recolhe os líquidos espessos da tua vida e unge com eles a matéria do sacrifício”, que sejamos obedientes à Sua voz.
Que Maria Santíssima, Modelo de Obediência, interceda sempre por nós.
Veni Sancte Spiritus!
Vinícius Rodrigues Simões
Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL
G.O Jesus Senhor