“O tema do ano é um pedido permanente para vivermos, transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para viver a fidelidade da nossa vocação”, inicia Dom José Aparecido na última pregação do ENF 2020. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília recorda-nos o pecado original dos primeiros pais e afirma que São Paulo nos aconselha o contrário, a sermos movidos pelo Espírito.
Ele destaca o amor ciumento – ou “zeloso”, como está nas escrituras – de Deus por seus filhos, “um amor que vem das vísceras de Deus”. Com a leitura do livro do profeta Isaías, confirma que o Senhor tem o amor de uma mãe amorosa, e que “meu servo és tu, em ti que vou brilhar”. Passagem que o recorda das palavras do então Papa João Paulo II quando nos compara à luz da Lua que reflete a luz do Sol. “Deus quer brilhar em você e em mim”.
E continua, ao falar da cena paradoxa vivida na quinta-feira santa, de “um Deus que se humilha, que parece que mendiga de volta o amor que nós negamos a Ele com nosso pecado desde os primeiros pais”. Contudo, pondera: “Quantas vezes abandonamos a Deus, seduzidos pelo demônio, a carne e o mundo?” Ele afirma que destes, a carne ou o ‘intrusinho sujeito chamado Eu’ é o mais perigoso e ressalta: “Não é possível viver longe do amor entranhado de Deus”.
Para Dom José Aparecido só há duas opções, o caminho da bênção ou o da maldição. O primeiro é aquele onde tenho fervor e amor ardente por Deus; o segundo, onde me encontro afastado d’Ele, entregue à podridão como o filho pródigo quando afastado da casa do Pai. Quem está com Deus está no caminho da vida, mas que não está, O nega e está no caminho da morte. Ele alerta que “não há lugar na vida cristã para a tibieza”.
“Pela experiência dos santos, sabemos que a falta da experiência sensível de Deus não perturba o fervor profundo do cristão, o que nos perturba é a mediocridade, a tibieza, a frieza, a apatia. Se nos entregarmos a Ele, o Senhor nos conservará o fervor”, observando ainda o perigo da preguiça espiritual ou acídia, que é “quando começamos a abandonar a oração e fazemos muitas coisas para não fazer o essencial que é estar com Deus”.
Os remédios
Para combater o homem velho, o Bispo apresenta os remédios para voltar ao primeiro amor, a uma vida no Espírito. Ao ler o capítulo 3 do livro do Apocalipse, versículo 18, ele diz que, devemos “buscar as coisas do alto e mortifiquemos a velha criatura para edificar o homem novo (o ouro provado no fogo); é deixar-se salvar, A expressão externa deve ser a aparência dos sentimentos que há n’Ele (para ter vestes brancas); sem a graça de Deus não conseguimos vencer a tibieza. Dobrar-se em adoração ajuda a vencer a mornidão; seguir o que indica a Igreja que nos acompanha e orienta à Jesus, ter direção espiritual para conhecer os caminhos e a vontade do Senhor (colírio para olhos)”.
O segundo remédio é “arrepender-se e voltar às obras iniciais” como aponta o capítulo 2 do livro do Apocalipse. “Confissão não é faxina! A confissão aumenta-nos a graça, é o sacramento da amizade com Deus, renova todas as coisas em nosso coração, nos dá a paz, a plenitude dos céus”, e continua dizendo que voltar ao primeiro amor “não é sentir o que sentia no início da experiência de Deus, é praticar as obras do início com ordem da caridade, com amor de gratidão permanente. Com gratidão, voltamos a desejar a adoração, leitura da Palavra, Eucaristia, Confissão, a voltar ao Grupo de Oração”.
O prelado recomenda “quando os sentimentos iniciais nos abandonam precisamos combinar um plano amoroso com Deus. Se não consigo a oblação interior, dou a Deus a oblação do meu tempo com Ele. E lembre-se: É Jesus que salva, não sou eu! Devemos pensar como grandes empresários, por zeros a mais eles entregam a vida a empresa e fazem previsão de anos, tempo. E nós pelo tesouro mais precioso aqui da Terra e eterno, queremos deixar tudo a espontaneidade… que seja espontâneo o nosso amor mas que seja combinado o nosso compromisso, façamos o nosso plano de vida espiritual. Orar sem cessar é guardar tempos para oração e para servir as pessoas”.
Retomando a carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 12, tema desta pregação, Dom José Aparecido avalia que “sem a esperança, a fortaleza na tribulação e perseverança na oração não encontramos novo ardor, o fervor que alenta a missão que Deus confia a RCC neste tempo que se chama hoje, não encontramos nosso caminho na santidade”.
Por fim, “para rechaçar o homem velho da nossa vida, chamado Eu, é preciso mortificação. Preciso travar na minha carne a batalha de Jacó e, um a um, com pequenas mortificações, destruir o fruto do pecado. É preciso que descubra um ponto por vez para o destruir. Movidos pela graça, derrubemos o poder de satanás contra a nossa vida. Se eu destruir um vício por ano serei um santo de altar. Estamos aqui para realizar o lindo sonho de Deus em nós, por isso é preciso nos deixar transformar pela renovação do nosso espírito”.
Ao concluir, convida o povo a “pedir um novo ardor missionário, espiritual, que nos faça sermos corajosos e intrépidos anunciadores da Boa Nova que nos trouxe até aqui, anunciadores desse dom precioso, que é a vida segundo o Espírito, que nos levará a construir um mundo novo, uma sociedade nova na nossa Terra, para renovar a face da Terra na Igreja, para que a nossa Igreja seja como quer o nosso querido Papa Francisco, batizada no Espírito Santo. Amém”.
Vinícius Simões, presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL, a convite do Bispo conduz a oração que encerra a pregação, motivando os participantes a pedir a graça de voltarmos ao primeiro amor.