Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus e levai ao chefe dos serventes (Jo 2,7-8).
Caríssimos irmãos e irmãs, graça e paz da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Esta passagem bíblica, muito conhecida por vários de nós, apresenta o primeiro milagre feito por Jesus (João 2,1-11) em Sua vida pública: o milagre das Bodas de Caná. Trata-se de um texto muito profundo, que nos ensina muitas coisas, inclusive quanto ao nosso relacionamento com o Senhor.
Contemplemos, pois, alguns dos personagens presentes nesta narração do Milagre de Caná:
A Escritura nos diz que Jesus foi convidado para as bodas em Caná da Galileia. Alguém poderia pensar: mas Jesus, sendo Deus, quer participar de uma festa de casamento? Sim, Jesus quer participar de todos os momentos de nossa vida; nos momentos bons Ele se alegra conosco; nos momentos de dor Ele nos carrega no colo. Ora, Jesus é o Deus-Conosco e, por isso mesmo, gosta de participar do nosso cotidiano, gosta de participar da nossa vida como um Deus amigo. Será que temos convidado Jesus para participar da nossa vida toda ou só de alguns momentos? Quando Jesus participa de toda a nossa vida não nos falta o Vinho melhor – o Espírito Santo e o ânimo, a alegria, a paz, a fé, a esperança que só Ele pode gerar em nós. Neste sentido, Santo Ambrósio nos dirá: “Laeti bibamos sobriam profusionem Spiritus” (“Com alegria bebamos da sóbria profusão do Espírito). Não esperemos estar tudo bem para que convidemos Jesus para a nossa vida; Ele está disposto a entrar nela do jeito que está. Ao antecipar seu primeiro milagre – sim porque ele disse à Sua Mãe que ainda não havia chegado a hora –, Jesus manifesta sua infinita misericórdia por aquele casal, por aquela família nascente, que passaria enormes apuros em virtude da falta de vinho. Em verdade, Jesus aniquila a nossa vergonha, assumindo Ele próprio o nosso pecado na Cruz. Ele transforma água em vinho e transforma a cruz, sinal de maldição, em bênção eterna para a humanidade. Aleluia!
Além de Jesus, estava ali presente Maria Santíssima, a Mãe de Misericórdia, sempre atenta para ajudar os filhos. A Mãe está sempre atenta a nós. Devemos, pois, apresentar a Ela nossas aflições, problemas, medos, particularidades, na certeza de que Ela levará nossas intenções a Jesus e nos ensinará a fazer tudo o que Ele nos disser… Com efeito, um dos títulos mais antigos e difundidos de Maria é Auxilium Christianorum (Auxílio dos Cristãos). São João Crisóstomo, Padre da Igreja, assim se dirige a Ela: “Maria, tu és o auxílio potentíssimo de Deus.” Portanto, não tenhamos medo de convidar Maria para a nossa vida toda, pois Ela nos leva a Jesus.
A Escritura nos diz que foram convidados também os discípulos de Jesus. Aí está presença fundamental da comunidade cristã, da Igreja, na nossa vida. Diz-nos o Livro do Eclesiástico: “Anda na companhia do povo santo, com os que vivem e proclamam a glória de Deus” (Eclo 17,25). Também o Papa Francisco nos ensina que: “É impossível crer sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o ‘eu’ do fiel e o ‘Tu’ divino, entre o sujeito autônomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao ‘nós’, verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja” (Encíclica Lumen Fidei, 39). Portanto, não nos afastemos da nossa comunidade paroquial, do nosso Grupo de Oração, aconteça o que acontecer.
No texto sobre o qual estamos refletindo observamos também a figura dos serventes: eles obedecem à voz de Maria que lhes orienta a fazer tudo quanto Jesus lhes disser, e também obedecem a Jesus, que lhes manda encher as talhas de água. Para que o milagre aconteça em nossa vida, precisamos obedecer a Deus e fazer a nossa parte, que é encher as talhas com fé, com esperança, com a nossa oração súplice e confiante. Verdadeiramente, obediência e fé são como que matérias-primas para a manifestação do poder de Deus.
Por fim, gostaria de refletir sobre o chefe dos serventes. Ele tem sensibilidade para reconhecer que algo extraordinário aconteceu e brada uma palavra de louvor a Deus: “este é o melhor vinho, que guardastes até agora…” Às vezes Deus está transformando água em vinho novo na nossa vida e não estamos percebendo. A crise é material para que milagres sejam realizados pelo Senhor. Não joguemos fora as nossas lágrimas, mas sejamos sensíveis ao poderoso mover de Deus em nossas vidas, que por vezes age com discrição, como uma brisa suave.
Portanto, irmãos caríssimos, nesta passagem nós vemos a manifestação da misericórdia do Senhor para com aqueles noivos e também para com cada um de nós. “Mulher, minha hora ainda não chegou”, diz Jesus à Sua Mãe. Mas, movido de compaixão, Ele adianta o milagre. A misericórdia de Deus por nós é concreta – não uma ideia abstrata; é sempre atenta, é incansável – “Deus nunca se cansa de nos perdoar, nós é que nos cansamos de pedir perdão” (Papa Francisco, em 17.03.2013) –, é fiel, é eterna. Aproximemo-nos, pois, confiantemente – arrependidos, quebrantados – do trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e acharmos a graça de um auxílio oportuno (cf. Hb 4,16).
Que Maria Santíssima, Aquela que é Auxilium Christianorum, interceda atentamente por nossas necessidades e nos ensine a fazer tudo o que Jesus disser.
Veni Sancte Spiritus!
Vinícius Rodrigues Simões
Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL
G.O Jesus Senhor
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