Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus (Jo 20,24).

 

Queridos irmãos e irmãs, o versículo bíblico acima nos apresenta a dramática ausência de Tomé quando da manifestação da presença física (visível, palpável) e gloriosa de Jesus Ressuscitado, na sala em que os discípulos estavam trancados por medo dos judeus. Seguramente, eles estavam em crise, estavam profundamente tristes pela morte de Jesus e tomados pelo medo de que tivessem a mesma sorte. Entretanto, ao voltarem a ver o seu Mestre amado, os discípulos alegraram-se sobremaneira ao poderem tocá-Lo e escutá-Lo novamente e receberam Dele o sopro do Espírito Santo que lhes conferiu autoridade para a missão. Tomé, entretanto, não viu o Ressuscitado porque “não estava com eles…”

Este versículo riquíssimo não expõe o motivo pelo qual Tomé havia se apartado da comunidade dos discípulos, mas o fato é que Jesus veio e Tomé não o contemplou naquele primeiro momento. Jesus teve que aparecer uma segunda vez para que Tomé tocasse em Suas chagas e cresse. Nesse sentido, a Palavra nos atesta que quando não estamos em comunidade corremos o risco de não ver o Ressuscitado, de não receber o Sopro para o envio.

Nosso amado Papa nos ensina o seguinte:

“É impossível crer sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o ‘eu’ do fiel e o ‘Tu’ divino, entre o sujeito autônomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao ‘nós’, verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja. (…) Esta abertura ao ‘nós’ eclesial realiza-se de acordo com a abertura própria do amor de Deus, que não é apenas relação entre o Pai e o Filho, entre ‘eu’ e ‘tu’, mas, no Espírito, é também um ‘nós’, uma comunhão de pessoas. Por isso mesmo, quem crê nunca está sozinho; e, pela mesma razão, a fé tende a difundir-se, a convidar outros para a sua alegria.” (Encíclica Lumen Fidei, 39).

Portanto, aconteça o que acontecer, não nos afastemos de nossa comunidade, de nosso Grupo de Oração! É sabido que muitos de nossos Grupos de Oração estão com as atividades suspensas, mas o senso de comunidade se sobrepõe às reuniões físicas. Já que não é possível e seguro nos reunirmos presencialmente em virtude da pandemia, façamo-lo virtualmente (por plataformas de reunião, aplicativos de mensagens, redes sociais) e em última análise, até por contatos telefônicos. O importante é não caminharmos sozinhos, não nos dispersarmos. Que ninguém fique à beira do caminho. Santo Ambrósio nos diz que o homem que vive sozinho, que se isola, que pensa se bastar, é profundamente infeliz e incompleto, pois se completa em Deus e no seu semelhante.

Vemos que desde o início do cristianismo os discípulos estavam sempre reunidos em torno de Jesus: aos Seus pés para receberem Seu ensinamento, saindo de dois a dois em missão, contemplando juntos os prodígios e milagres que o Senhor fazia diante de seus olhos, em torno da mesa para a ceia, reunidos unanimemente em oração em torno de Maria Santíssima. O próprio Senhor assim o quis.

Nada diferente foi com a comunidade cristã primitiva, oriunda da experiência de Pentecostes, narrada no início do Livro dos Atos dos Apóstolos. No Capítulo 2, versículos de 42 a 47, vemos algumas expressões emblemáticas que denotam bem a intensidade e concretude desta vivência comunitária: “na reunião comum” – todos eram bem-vindos, havia troca entre eles, ajuda mútua, suporte comunitário; “fração do pão” – Eucaristia (quem comunga, comunga toda a Igreja); “viviam unidos e tinham tudo em comum” – ninguém era maior ou melhor, ajuda mútua, suporte de fé; “com alegria e simplicidade de coração” – não havia presunções entre eles e a vida comunitária gerava alegria, contentamento; “cativavam a simpatia de todo o povo…” – a vida comunitária em amor atrai as pessoas, pois “a Igreja não cresce por proselitismo (propaganda), mas por atração” (Papa Bento XVI).

Viver em comunidade evoca viver em unidade, em comunhão uns com os outros. No Capítulo 4 da Carta aos Efésios, São Paulo Apóstolo nos exorta a vivermos uma vida digna da vocação a que fomos chamados, ou seja, que conservemos a unidade do Espírito que é vínculo da paz (v. 3), que demos suporte uns aos outros com caridade (v. 2), que sejamos um só corpo e um só espírito (v. 4), que sejamos como um único edifício unido por conexões bem-dispostas (v. 16). Portanto, irmãos e irmãs, precisamos nos perguntar: estou sendo um construtor de comunhão ou alguém que tem se isolado ou que tem promovido o isolamento da comunidade cristã na qual todos devem estar inseridos? Somos chamados a ser perfeitos na unidade (Jo 17,23)!

Que Maria Santíssima, a Mãe do Cenáculo, interceda por nós como garantidora da unidade em torno de Jesus e de Sua promessa!

Veni Sancte Spiritus!

 

 

Vinicius Rodrigues Simões

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL

G.O Jesus Senhor

 

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